A Princesa Mononoke - Carta Verde

Breaking

terça-feira, 3 de julho de 2018

A Princesa Mononoke



É surpreendente quando uma animação consegue cativar de tal forma aquele que assiste, de modo a introduzir um mundo por completo logo nas primeiras cenas mostradas. Não é novidade que, tratando-se de animação, o estúdio Ghibli é fantasticamente magnífico, e nesse filme isso só é mais reforçado. Mononoke, a princesa lobo, conta com dois segmentos narrativos que fazem o filme ser ao mesmo tempo um épico e uma espécie de conto popular, característica esse comum já tratada em outros filmes da produtora, como As Viagens de Chihiro. No entanto, se enganam aqueles que, por remeter à uma história de fantasia, acharem que não é um filme violento. Muito pelo contrário, o sangue aqui é explícito e não são censuradas cenas de amputação de membros e semelhantes. Como a cena abaixo:

Image result for princess mononoke gif

O filme, basicamente, segue a história do herói Ashitaka. Após ser infectado com uma tipo de maldição por um demônio, ele precisa viajar até terras distantes do seu reino para encontrar o espírito da floresta, o único ser que poderia ajudá-la. Nesse meio tempo, Ashitaka acaba por conhecer a cidade do ferro, uma cidade localizada perto da grande floresta em que se encontra a personagem San, uma humana criada por lobos gigantes. Ashitaka, como todos os grandes heróis de histórias épicas, precisa passar por diversos testes e provações, de modo a não renunciar quem ele é e manter-se fiel aos seus preceitos. O filme termina com um desfecho que encerra as linhas dos personagens e foge do padrão ocidental de final feliz. Uma das primeiras marcas do filme é justamente fugir de situações previsíveis e usar e abusar de decisões menos idealizadas, fazendo com que o telespectador cultive uma curiosidade em relação à todos os personagens apresentados.



Retomando aos personagens, vale aqui mencionar uma característica que eu acho particularmente muito bem trabalhada, que é justamente o fato das personagens - com exceção do herói Ashitaka - não apresentarem caricaturas ou linhas unidimensionais. É possível notar isso logo no início do filme, com a introdução da personagem Lady Eboshi.



Lady Eboshi é a líder da cidade de ferro e comanda todo o aparato siderúrgico de exploração mineral nas redondezas. Eboshi pode ser facilmente julgada como uma vilã pelo seu desejo de destruir a floresta. No entanto, ao mesmo tempo que faz isso, ela resgata prostitutas de bordéis e cuida pessoalmente de leprosos, revelando, inclusive, o seu desejo como uma solução para o problema desses homens doentes.
Logo, podemos concluir que não existem realmente pessoas boas e pessoas ruins, mas sim uma mistura de características positivas e negativas que juntas formam o que tomamos como humanidade. A sensação que dá é que Eboshi tem como finalidade principal mostrar o lado humano controverso, em que ora busca a destruição da natureza em prol somente de benefício próprio e ora mostra empatia por pessoas doentes e que são julgadas pela sociedade. É a dualidade bem contra o mal interior que carregamos conosco que faz uma personagem como Eboshi passar de odiada para compreendida. 

Ainda falando dos personagens, um ponto que chama bastante atenção é caracterização peculiar que todos apresentam no decorrer da história. A Princesa Mononoke é uma história com diversos personagens distintos e criaturas ainda mais chamativas. A sensação é que o mundo em que se passam os acontecimentos da narrativa não são o antigo Japão, mas sim um outro universo completamente novo, com regras novas.

Related image


Quanto à questão da fotografia do filme, algumas cenas ficam estampadas com a clareza e objetividade que querem passar, como essa cena abaixo, em que o espírito da floresta começa a sua transmutação em sua forma gigante. 



O fundo negro da floresta, em contraste com as cores claras e fortes no ser místico, somados com a luz que a lua reflete na criatura remetem à ascendência e é possível até fazer um paralelo entre o nascer do sol. Em outras cenas, o diretor nos deslumbra por cortes de cena demorados propositalmente, de forma a pararmos pra observar a beleza da paisagem apresentada. Nesse sentido, a alternância como a história, por si mesma, parece escolher querer ser contada é a peça chave para a fluidez do filme. 

É surpreendente, também, o quanto a trilha sonora do filme é trabalhada. Em diversos momentos ficamos tão emergidos na história que a música parece realmente estar sendo orquestrada, em meio à florestas, desfiladeiros e montanhas. A mistura genial entre efeitos sonoros e trilha instrumental são a cereja do bolo dessa obra prima.

Nesse sentido, fica inquestionável o fato de A Princesa Mononoke ser sim uma das grandes obras primas de Hayao Miyazaki. O diretor consegue criar algo tão pessoal e ao mesmo tempo universal, cheio de críticas sutis e alegorias ao mundo real, onde animais substituem pessoas e criaturas representam entidades como a natureza, o céu ou até mesmo o nada. Vale a pena assistir, vale a pena recomendar! Simplesmente magnífico.


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Post Top Ad