Análise: O Labirinto do Fauno - Carta Verde

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sexta-feira, 25 de novembro de 2016

Análise: O Labirinto do Fauno



"Reza a lenda que há muito, muito tempo, no reino subterrâneo onde não existe a mentira nem a dor, vivia uma princesa que sonhava com o mundo dos humanos. Sonhava com o céu azul, a brisa suave e o sol brilhante. Um dia, burlando toda a vigilância, a princesa escapou. Uma vez no exterior, a luz do sol a cegou e apagou de sua memória qualquer indício de seu passado. A princesa esqueceu quem era e de onde veio. Seu corpo sofreu com frio, doenças e dor, e com o passar dos anos, morreu. Entretanto, seu pai, o rei, sabia que a alma da princesa regressaria, talvez em outro corpo, ou outro tempo e lugar, e ele a esperaria até seu último suspiro, até que o mundo deixasse de girar...”

O fauno acredita que Ofélia é a reincarnação do espírito de sua princesa que costumava morar no mundo subterrâneo antes de sua morte. Ele lhe entrega três testes que determinarão se a essência dela está intacta e se sua alma poderá retornar para sua verdadeira casa.



O labirinto do fauno segue as regras e convenções que Vladimir Propp aceita como os pontos fundamentais para se construir um conto de fadas. Como exemplo pode-se citar a regra de três (nos contos de fadas o número três surge bastante vezes e é tratado como um número mágico). Del Toro, honrando fielmente esse conceito, constrói o filme com base na regra de três: Ofélia precisa completar três tarefas para retornar para sua verdadeira casa, três fadas guiam Ofélia em sua jornada, o quarto do homem pálido possui três portas, etc.

Alguns são óbvios, como os citados acima, porém outros são mais sutis e complexos na maneira abordada. Por exemplo, Ofélia encontra três criaturas do mal em sua jornada: o sapo gigante, o homem pálido e finalmente o Capitão Vidal, o mais perverso e monstruoso das criaturas que aparecem no filme.

Da mesma forma acontece com as três personagens principais femininas, (Ofélia, Carmen e Mercedes) podendo ser interpretadas como respostas do regime fascista de Vidal.



A eventual queda de Vidal é inteiramente satisfatória e justificada. Até o final do filme ninguém espera que Vidal tenha uma morte comum, mas que ele de certo modo pague por seus atos. Ele deve ser completamente destruído. E é exatamente isso que ocorre, quando Vidal pede que seu filho seja informado da hora de sua morte, recebendo a resposta de Mercedes: "Ele nunca vai saber seu nome", antes que seu irmão dispare contra seu rosto. Como regra nos contos de fada, no fim das contas o vilão é vencido.

Diversos personagens sofrem transformações físicas durante o curso do filme. Vidal, por exemplo, começa bem vistoso, de cabelos lisos, um típico modelo de representação do novo regime fascista. No entanto, ele termina o filme com cicatrizes físicas, tonto e quase a desmaiar depois de Ofélia tê-lo drogado.



O fauno também se transforma, ele começa incrivelmente velho e com muito esforço para se mover, porém com o passar das cenas ele parece mais jovem e revigorado, alterando contudo o seu comportamento, que se contrapõe ao seu inicial, apresentando-se mais sinistro e desconfiado de Ofélia.

A fantasia e o conto de fadas não são o único gênero presente em O Labirinto do Fauno. Como é um filme, existem regras de roteiro que devem ser seguidas para que a história possa ser bem elaborada.

O filme de Guillerme Del Toro destaca-se como uma retomada maravilhosa e refrescante na história clássica dos contos de fadas. Tanto cuidado e atenção foram gastos na criação da história e na construção dos personagens que acabamos nos apegando de verdade a eles, como a curiosidade e bondade de Ofélia e o ódio e maldade de Vidal. O filme tem várias camadas para serem interpretadas de diversos pontos diferentes, com um tom de uma simples história de fadas e uma fantasia obscura e profunda.

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