A insanidade dualística de Gatsby - Carta Verde

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quinta-feira, 12 de outubro de 2017

A insanidade dualística de Gatsby



Em “O Grande Gatsby” (The Great Gatsby) de F. Scott Fitzgerald, a realidade automotiva e veloz da cidade de New York no início do século 20, aliada com o emaranhado montante de características da revolução industrial e seus malefícios na sociedade nos entrega uma visão ao mesmo tempo pessimista e obscura da vida quanto a da luz no fim do túnel.
Logo no início da trama, conseguimos conhecer, mesmo que superficialmente, através do escritor Nick Carraway, a figura carismática e intrigante de Gatsby. Este que parecia ser a “luz no fim do túnel”, parece construir sobre si todas as amarguras do passado e o desejo humano inerente à gloria e ao poder.



Apesar de, inicialmente, repassar a imagem otimista e visionária de um mundo, mesmo considerando o fato de ser destrinchado sob o olhar de um escritor completamente pessimista quanto às pessoas, Gatsby surpreende o telespectador ao mostrar-se como uma pessoa ressentida e com anseios comuns a todos, carregando consigo temores universais em sua mente conturbada por conta de seu passado e abordando causas atemporais como o amor, o desejo, e a nostalgia.
Com cerca de quarenta minutos de filme, finalmente somos apresentados ao verdadeiro passado de Gatsby. Contrariando toda a sua história fictícia forjada no início da trama, ele revela-se como um homem que chegou onde chegou com seus próprios passos.
Gatsby trabalhou por um bom tempo com um velho marinheiro que possuía uma quantia considerável de dinheiro e, com isso, aprendeu a se portar como um verdadeiro homem de classe. Porém, contrariando suas expectativas inicias de dar prosseguimento ao seu belo futuro imaginário, a fortuna do velho acaba sendo repartida entre a família do senhor, não restando nada para o pobre aprendiz.
E com isso se inicia a história do grande Gatsby, um homem que do dia para a noite enriqueceu tanto ao ponto de dar as melhores festas da cidade, possuir os melhores carros, companhias e uma mansão de tamanho inimaginável.



(mansão de Gatsby)


Logo em seguida é revelado que toda a fortuna de Gatsby está fundamentada na venda ilegal de álcool na sua rede de farmácias da cidade mesmo que, neste período, estivesse em vigor a lei seca nos Estados Unidos. Tal fato faz com que o personagem atue num campo minado de vigaristas e “homens de negócios” que buscam sempre mais e mais poder. Uma das principais representações de tal setor corrupto e ao mesmo tempo aproveitador é apresentado ao expectador por meio do personagem nome do personagem, onde a desconfiança transborda sob o olhar daqueles que o observam devidamente.

Apesar de sua sede por glória e prestígio na sociedade, somente uma coisa importa mais que sua posição social para Gatsby, o seu amor por Daisy.
Porém, tal amor não carrega consigo o aspecto puro e sútil de um relacionamento comum, sendo sempre aliado ao ideal romântico que o próprio personagem forja sobre a personagem. A principal prova de que o amor, em certo momento, chega ao estado doentio é revelado nas rápidas cenas do ápice da obra, onde Gatsby obriga, através de um jogo psicológico, Daisy a revelar o seu “verdadeiro amor” pelo personagem, com o propósito de desfazer tudo que a pobre garota conseguira construir até agora, sob a conclusão prévia de que tudo não passou de uma vida desperdiçada e ilusória.

O personagem ignora completamente a vida que Daisy construiu por todos esses anos que ele passou lutando na guerra e pede, de um maneira obscura e um tanto melancólica, que ela renuncie tudo isso por sua promessa de uma vida melhor ao seu lado.
Vale a pena ressaltar que em diversos momentos do filme o telespectador consegue observar o desespero e o conflito interno que a personagem Daisy é colocada por conta das duas figuras masculinas principais (Gatsby e Tom), fazendo com que repensemos à respeito da verdadeira responsabilidade e talvez culpa da garota em todos os acontecimentos que ocorrem futuramente na trama.




Nesse sentido, é de suma importância atentar para as características principais do personagem Gatsby em toda a obra e o que elas revelam sobre sua personalidade, suas motivações e suas intrigas consigo mesmo. Primeiramente, quando analisamos os diversos momentos do filme em que o seu histórico na guerra mostra-se como um fator de influência em toda a sua construção, conseguimos perceber que o seu amor e desejo por sua amada Daisy foi diretamente fortalecido durante o conflito, onde somente a promessa vaga de um reencontro com a sua personificação de todas as coisas que ele amava poderia livrá-lo do real e horroroso campo de guerra. Daisy apresenta-se como a esperança que Gatsby carrega em sua alma de todas as coisas boas que o mundo poderia ter-lhe oferecido, caso ele não tivesse presenciado o cruel conflito da guerra, e é principalmente por conta disso que ele não pode deixar que ela escape de suas mãos.



Desse modo, o jovem milionário tenta de todas as formas destruir o relacionamento de Daisy e Tom Buchanan, sob a alegação de procurar trazer de volta todas as coisas boas que os dois possuíam no passado. Gatsby revela-se como uma pessoa marcada por arrependimentos e mágoas, sendo esses sentimentos causados principalmente por sua posição social no período em que conheceu Daisy, onde a patente vaga de soldado manchou completamente sua reputação como cavaleiro e revelou-se como um muro de ferro entre seu desejo por Daisy e o verdadeiro conflito de classes existente na época.

Por fim, é possível afirmar que a mente de Gatsby viu-se precariamente conturbada com todos os acontecimentos de sua vida e talvez, por conta de sua ótica otimista e visionária de mundo, a visão romântica que o personagem fortificou à respeito de Daisy foi o principal motivo de seu declínio. Assim como coloca Nick, o escritor e amigo de Gatsby que o acompanhou desde o início de seu relacionamento com Daisy, apesar do fato de que toda a figura emblemática que o pobre homem tentou forjar todos os anos em que ele morou na gigante mansão de New York mostrar-se como uma pessoa importante no meio social, no fim de sua vida ele morreu sem ninguém que realmente se importasse com isso, revelando, desse modo, que toda a realidade e vivência que Gatsby tentou montar todos esses anos não passou de uma ilusória construção de prestígio, fama e amor.

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